15 de fevereiro de 2016

Enquanto a compra diminui, quem conserta está rindo à toa

Com a renda corroída pela inflação, o brasileiro tem mudado os hábitos e reduzido o ritmo do consumo fácil. Em vez de comprar um produto novo toda vez que um que já está no armário estraga ou fica com cara de velho, a prática em boa parte dos lares, agora, é consertar. Com isso, tem empresário rindo à toa. Quem trabalha no segmento de pequenas reforma não tem reclamado da tão falada crise, que passa longe do setor.
Sócia de uma franquia da Sapataria do Futuro – que hoje tem um conceito amplo de reformas de roupas e calçados, tinturaria e lavanderia –, Rosalina Cipriano conta que a procura por consertos de roupas aumentou cerca de 30%, na comparação com os meses de novembro e dezembro de 2015. “Pela primeira vez na nossa empresa, tivemos que terceirizar os serviços de costura para dar conta da demanda do fim do ano”, comemora.
A loja, que emprega 12 pessoas, tem seis costureiras fixas e abriu vaga para mais uma. “Reforma de roupa é o meu maior serviço. O cliente está consertando peças que antes estavam encostadas no armário”, comenta Rosalina.
Quem também está rindo à toa é a dona da Alpha Bags, no bairro Floresta, em Belo Horizonte. “Meu movimento aumentou quase 100% entre dezembro e janeiro”, esclarece Naiara Marques. Especializada em consertos de malas, bolsas e mochilas, a loja teve um faturamento cerca de 50% maior, e o carro-chefe é a assistência técnica das principais marcas de malas do país.
“Mala é considerada uma coisa cara mesmo, e oferecemos bons preços. Ela fica novinha. Fazemos também higienização a vapor”, diz. Mas o conserto de mochilas escolares tem surpreendido Naiara: “O dinheiro está mais curto mesmo, e percebo que muitas mães, que não pensavam em aproveitar a mochila de um ano para outro, vêm aqui falando que é uma coisa que encareceu muito”.
No Hospital dos Brinquedos, no bairro Gutierrez, o proprietário Renato Sales conta que janeiro foi muito bom. “Meu movimento cresceu em torno de 25% na comparação com o ano passado. Não posso reclamar”, diz ele, que tem uma clientela fiel. Uma delas é Dora Sueli Barbosa dos Santos, que levava os brinquedos dos filhos para consertar, e agora leva os dos netos. “Com a crise, está todo mundo consertando tudo mesmo. Brinquedo é uma coisa muito cara. Se dá, tem que consertar”, defende Dora.
Sales não pensa em reajustar os preços, apesar do aumento de custos com aluguel, luz e salários dos três funcionários. “Eu atendo a classe AA, A, B, C. Meus preços vão de R$ 30 a R$ 1.500, que é o conserto de um robô de limpeza”, diz Sales.
Dicas para o negócio. O coordenador do curso de ciências econômicas da Newton Paiva, Leonardo Bastos Ávila, explica que em determinados nichos – como esse de pequenas reformas – a tendência é mesmo crescer em período de crise. Mas é preciso ter a mesma visão de um grande negócio. “É preciso aproveitar o momento propício para construir uma carteira de clientes”, ensina.


Reformas em casa estão em ritmo lento

Na contramão desse boom do segmento de reformas em itens de uso pessoal, quem trabalha com pequenos serviços em casa não vive um bom momento. Na Chame o Mestre, que é uma plataforma online que reúne profissionais de Belo Horizonte para vários tipos de serviços, o movimento caiu cerca de 20% em janeiro, na comparação com o fim do ano passado. “Ainda deve cair mais”, acredita o proprietário Reinaldo Leal. 
Na Engemad Construtora e Reformas, o gerente geral Ivan Madrona confirma que o movimento neste ano já esta entre 30% e 40% menor que em 2015. “Tem dia que nem orçamentos fazemos. O cliente está perdendo o emprego e não tem como contratar nem uma pequena reforma”, diz. 
Fonte: O Tempo

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